Resgate Implacável | David Harbour diz como equilibrou filme com Stranger Things
Publicado em 28/03/25 06:00
O prazer de David Harbour pelo trabalho só é compreendido quando se visita a atarefada agenda de 2024 do ator. Entre os meses de maio e junho, ele participou de três sets ao mesmo tempo, viajando por semanas de um lado para o outro nos Estados Unidos.
Cada produção teve seu nível particular de estresse. As gravações da quinta temporada de Stranger Things, por exemplo, tomaram o ano inteiro de Harbour. Thunderbolts*, o novo filme da Marvel, foi mais rápido, comendo apenas o primeiro semestre de sua vida. Já Resgate Implacável, filme em que o ator contracena com Jason Statham e que chega aos cinemas nesta quinta-feira (27), precisou dele em apenas um fim de semana.
Se o último trabalho parece o mais fácil dos três, vale apontar que Harbour praticamente foi arremessado para dentro da gravação. Ao Omelete, o artista diz que ele não parou durante os três dias em que esteve nas gravações. A operação relâmpago envolveu desde os testes de figurino até as três cenas gravadas para o longa de David Ayer.
“David gosta de te arremessar lá dentro e criar um cenário e uma cena que te deixe brincar”, diz o ator na entrevista por videochamada. “Ele permite que você descubra, encontre e traga todo tipo de cor para a história. Então foi um balanço legal entre todos esses elementos diferentes.”
No filme, Harbour vive Gunny Lefferty, um ex-militar cego que ajuda o protagonista vivido por Statham, amigo de operação, a recuperar a filha de um empreiteiro que foi parar no tráfico humano. O longa é inspirado em uma série de livros do americano Chuck Dixon e tem roteiro escrito por Sylvester Stallone.
No momento, porém, Resgate Implacável parece o projeto menor na atarefada carreira de David Harbour. Além de Stranger Things e do Marvel Studios, o ator também se prepara para filmar a sequência de Noite Violenta, em que vive um Papai Noel porradeiro.
Ele se diz impressionado pela recorrência de franquias em sua vida. “Parece mesmo que minha carreira está avançando no sentido de desenvolver esses personagens por um longo período de tempo”, afirma orgulhoso na conversa. “Eu me encontro apaixonado por esses personagens e pelo potencial deles, em especial para onde eles podem ir, como eu consigo esticá-los e o que mais você pode revelar sobre eles.”
Apesar da loucura na vida profissional, Harbour se diz satisfeito com o momento. “Eu realmente gosto muito de trabalhar, então eu pude fazer muito do que eu amo ao longo do último ano”, diz com um sorriso amigável, escondido pelo bigode volumoso em seu rosto.
Na conversa a seguir, David Harbour fala sobre a sua carreira e os desafios de viver personagens durante muito e pouco tempo, além do que descobriu enquanto trabalhava em Resgate Implacável.
OMELETE: Eu estava tentando reconstruir a sua agenda do ano passado e entrei em pânico. Entre os meses de maio e junho, você trabalhou ao mesmo tempo nas filmagens de Stranger Things, de Thunderbolts e de Resgate Implacável. O que te levou a fazer isso e como foi equilibrar todos esses projetos? Isso foi produtivo para você, de alguma forma?
David: Foi bem maluco, mas todas essas produções se ajudam. Eu consegui [balancear as três] porque a produção de Stranger Things foi bastante longa, ela demorou um ano para ser concluída, e ela tem todas essas tramas paralelas. Então há a narrativa A, B, C e acho que até tem uma D com as crianças e os adultos, todas essas coisas.
Por isso, eles conseguiram diminuir o trabalho em cima do meu papel durante a produção de Thunderbolts. Aí com Resgate Implacável eu só precisei estar lá [no set] durante um fim de semana, então tive apenas alguns dias com o filme e nós fizemos funcionar. Sabe, eu realmente gosto muito de trabalhar, então eu pude fazer muito do que eu amo ao longo do último ano.
OMELETE: Você acha que te ajuda trabalhar em personagens tão diferentes em um período tão curto de tempo? Estes três papéis tem pouca relação entre si, então fico pensando se a preparação de um trabalho te auxilia no outro.
David: Depende. Digo, ele pode ser as duas coisas, cada trabalho é único de um jeito. Mas eu sinto que com este [momento], foi muito bom trabalhar com os três [papéis] ao mesmo tempo.
Eu fui muito feliz de ter [este papel] porque como eu digo, Stranger Things foi dez anos da minha vida e [a última temporada] tomou um ano inteiro de produção, e neste último ano foram várias filmagens noturnas e dias de 15 a 16 horas, até mesmo filmando durante o fim de semana, às vezes em semanas de seis dias. Foi um trabalho muito intenso porque eles queriam que o final fosse algo espetacular.
Já a Marvel, estranhamente, eu senti que foi algo meio desconexo, como se nós estivéssemos fazendo algo divertido juntos. Mesmo que seja uma produção grande, Jake [Schreier], Kevin [Feige] e todos os envolvidos queriam fazer algo que fosse mais divertido e espontâneo, quase indie em algum sentido.
Com Resgate Implacável, o trabalho foi ainda mais desconexo que isso. Eu cheguei lá, fui medido para os figurinos, basicamente fui para o set e gravei com o David Ayer, com quem eu trabalhei antes e de quem eu realmente gosto. O David gosta de te arremessar lá dentro e criar um cenário e uma cena que te deixe brincar, ele permite que você descubra, encontre e traga todo tipo de cor para a história. Então foi um balanço legal entre todos esses elementos diferentes.
OMELETE: Agora eu fiquei curioso. Você prefere trabalhar nestes filmes e séries com uma janela de produção maior, como Stranger Things e a Marvel, ou em papéis que você resolve a sua participação em um período curto de tempo?
David: Eu não sei qual prefiro. Eu te diria que gostaria mais do esquema de “um e pronto”, mas parece mesmo que minha carreira está avançando no sentido de desenvolver esses personagens por um longo período de tempo.
Nós dois sabemos que Stranger Things terminará este ano, o que é bom, porque foi um período legal de dez anos. Mas há agora essa coisa com a Marvel, em que eu faço um personagem nos mesmos moldes, e estou trabalhando em uma sequência de Noite Infeliz. Então há todos estes tipos de franquia em que eu me encontro apaixonado por esses personagens e pelo potencial deles, em especial para onde eles podem ir, como eu consigo esticá-los e o que mais você pode revelar sobre eles. Conforme eu me apaixono por essas coisas, eu continuo a desenvolver essas ideias com criativos do topo da cadeia de comando e eles me dizem ‘Legal, vamos manter isso acontecendo’.
Eu acho que a certa altura da carreira eu teria te dito que eu gosto mais de fazer trabalhos pontuais, mas agora, conforme eu me apaixono pelas pessoas nas equipes, pelos criativos e pelos próprios personagens, eu tendo a me sentir muito investido neles e querendo construir camadas sobre eles.
OMELETE: Gunny Lefferty, o seu personagem em Resgate Implacável, tem uma participação bem pequena na história. Ele aparece em três cenas e, como você mesmo disse, as filmagens tomaram apenas um fim de semana da sua agenda. O que você trouxe para o papel que não estava no roteiro escrito pelo Sylvester Stallone e o David Ayer? E é muito diferente para um ator trabalhar em um roteiro escrito pelo Stallone?
David: Eu fiquei bastante interessado por isso também, e é um bom roteiro. Digo, Stallone é um grande roteirista, nós sabemos isso pelas cinco ou seis décadas que ele vem escrevendo, de Rocky em diante. Ele é um grande roteirista e você sente isso no roteiro [de Resgate Implacável].
Apesar de tudo estar no roteiro, porém, ele ainda é basicamente um filme do David Ayer e o David coloca muito dele no filme. Ele me conectou com uns caras das forças especiais americanas, em especial um tipo particular de militar. Ele ama aquele mundo e aqueles caras, e ele presta uma reverência imensa a eles no filme, então há todo tipo de detalhe no filme, das tatuagens que eles têm às diferentes formas de convívio que se relacionam muito com essa gente.
David queria muito honrar esses caras e as coisas que eles fazem pelo país, que às vezes são sombrias e também necessárias, acho. Então foi interessante falar com essas pessoas sobre irmandade e o que significa criar uma família ao invés de ter uma família de sangue. Esses militares viajam e realmente dependem muito uns dos outros, de uma forma muito profunda, e eu queria focar nessa relação para o meu personagem. Eu queria trazer à tona este respeito, este amor que se manifesta em termos de se doar ao outro, seja em piadas ou nesse respeito profundo, de cuidar e se preocupar. É o tipo de irmandade que você tem com esses caras.
Resgate Implacável é baseado no romance Levon's Trade, de Chuck Dixon, e acompanha um antigo agente de operações especiais tentando levar uma vida tranquila, agora no ramo da construção. O filme também é estrelado por David Harbour (Stranger Things), Michael Peña (Homem-Formiga), Jason Flemyng, Arianna Rivas, Noemi Gonzalez e mais.
Prime Video: assine grátis por 30 diasAlém de dirigir, Ayer também foi responsável pela adaptação do texto de Dixon para o roteiro do filme, junto com Sylvester Stallone, que inicialmente também se chamaria Levon's Trade e teve seu título alterado no fim de 2024.
Resgate Implacável estreia nos cinemas em 27 de março.
Fonte: Omelete // Pedro Strazza