Morre David Lynch | Kyle Maclachlan faz homenagem ao diretor; veja
Publicado em 16/01/25 19:00
Faleceu aos 78 anos o diretor David Lynch, mente por trás de Twin Peaks e Veludo Azul. Vários nomes da indústria do cinema prestaram homenagens ao cineasta, incluindo Kyle Maclachlan, que interpretou Dale Cooper em Twin Peaks. O ator, que também trabalhou em Veludo Azul e Duna com o diretor, deixou uma mensagem por meio do Instagram.
"Enquanto o mundo perdeu um artista incrível, eu perdi um amigo querido que imaginou um futuro para mim e me permitiu viajar em mundos que jamais teria concebido", lê-se um dos parágrafos da homenagem do ator. Maclachlan ainda agradece o diretor por tudo, e ainda diz que será "para sempre seu Kale", forma como Lynch o chamava. Confira abaixo na íntegra a homenagem:
Quarenta e dois anos atrás, por razões além da minha compreensão, David Lynch me tirou da obscuridade para estrelar seu primeiro e último filme de grande orçamento. Ele claramente viu algo em mim que nem eu reconheci. Devo toda a minha carreira, e a vida, na verdade, à sua visão. O que vi nele foi um homem enigmático e intuitivo com um oceano criativo explodindo dentro dele. Ele estava em contato com algo que o resto de nós gostaria de poder alcançar.
Nossa amizade floresceu em Blue Velvet e depois em Twin Peaks e eu sempre o achei a pessoa mais autenticamente viva que já conheci. David estava em sintonia com o universo e sua própria imaginação em um nível que parecia ser a melhor versão do ser humano. Ele não estava interessado em respostas porque entendia que as perguntas são o impulso que nos faz ser quem somos. Elas são nossa respiração.
Enquanto o mundo perdeu um artista notável, perdi um querido amigo que imaginou um futuro para mim e me permitiu viajar em mundos que eu nunca poderia ter concebido sozinho. Posso vê-lo agora, de pé para me cumprimentar em seu quintal, com um sorriso caloroso e um grande abraço e aquela voz de buzina das Grandes Planícies. Conversávamos sobre café, a alegria do inesperado, a beleza do mundo e ríamos.
O amor dele por mim e o meu por ele surgiram do destino cósmico de duas pessoas que viam as melhores coisas sobre si mesmas, uma na outra.Sentirei mais falta dele do que os limites da minha linguagem podem dizer e meu coração pode suportar. Meu mundo está muito mais cheio porque o conheci e muito mais vazio agora que ele se foi.
David, continuo mudado para sempre, e para sempre seu Kale. Obrigado por tudo."
Após trabalhar muitos anos como pintor e diretor de curtas, Lynch estreou com seu primeiro longa-metragem Eraserhead (1977), que virou fenômeno em sessões da meia-noite nos EUA e se estabeleceu uma forte reputação cult com o passar dos anos.
Logo em seguida, ele foi contratado pela produtora de Mell Brooks para escrever e dirigir O Homem Elefante (1980), inspirado na história real de John Merrick, que sofria de deformações congênitas no rosto. Outro sucesso de público e crítica, o drama recebeu oito indicações ao Oscar, incluindo a primeira de Melhor Diretor da carreira de Lynch.
Os dois sucessos garantiram orçamento para um terceiro filme, que infelizmente não obteve os mesmos louros. Em 1984, ele dirigiu a primeira versão cinematográfica de Duna, de Frank Herbert. O filme custou US$ 40 milhões, mas não obteve êxito em bilheteria e nem agradou aos fãs de obra.
Onde assistir aos filmes de David Lynch O poder do cinema Lynchiano Além do cinema: Lynch na músicaAs coisas melhoraram já no filme seguinte, Veludo Azul, de 1986, uma de sus produções mais aclamadas, que definiu o estilo surrealista e sexualizado que viraria sua marca registrada. A guinada se manteve em 1990, com Coração Selvagem, que também garantiu uma Palma de Ouro para o diretor no Festival de Cannes.
No mesmo ano, ele partiu para a televisão com Twin Peaks, que combinou investigação policial e drama surrealista para conquistar o público e garantir várias indicações ao Emmy. Apesar do cancelamento da série na segunda temporada, que contou com menos envolvimento de Lynch, a franquia continuou com filme derivado Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer (1992) e com o revival Twin Peaks: O Retorno (2017).
Lynch voltou aos cinemas com títulos Estrada Perdida (1997), Uma História Real (1999), Cidade dos Sonhos (2001, pelo qual o diretor ganhou novo prêmio em Cannes) e Império dos Sonhos (2006), seu último longa-metragem.
Lynch foi casado quatro vezes. Ele deixa duas filhas e dois filhos.
Fonte: Omelete // Igor Pontes