Oscar 2025 | Ainda Estou Aqui pode vencer em Melhor Filme e Internacional?
Publicado em 24/01/25 15:00
Um clima de Copa do Mundo tomou conta do Brasil neste 23 de janeiro de 2025. Se a vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro foi uma surpresa para grande parte daqueles que gostam de cinema ou mesmo só acompanham pela curiosidade de um brasileiro estar indicado aos prêmios, nesta quinta a história foi outra. Quando o anúncio dos indicados ao Oscar 2025 começou, muitos já estavam atentos sobre as possibilidades tanto de Fernanda Torres quanto de Ainda Estou Aqui entrarem na lista do Oscar. O que poucos esperavam - e acreditavam - era que o filme de Walter Salles seria coroado com uma indicação ao prêmio máximo, o de Melhor Filme, no meio de todos os filmes mais badalados da temporada nos EUA.
Agora que o êxtase e a adrenalina baixaram, vale a pena olharmos com mais calma para essas indicações e entender quais as reais chances de Ainda Estou Aqui no Oscar 2025. Vamos por partes.
Melhor Filme Internacional
Esta é a categoria que Ainda Estou Aqui estava praticamente garantido. Todos os sites e jornalistas especializados já apontavam que o filme estaria na lista final, quebrando um hiato de 26 anos desde a indicação de Central do Brasil ao Oscar de (na época) Melhor Filme Estrangeiro.
A verdade é que não há batalha fácil para o filme de Walter Salles no Oscar deste ano. Na categoria de Filme Internacional, ele vai encarar o vencedor de indicações no ano, Emília Pérez, e toda a máquina de marketing e campanha da Netflix. A produção dirigida por Jacques Audiard parece um titã na frente de qualquer um dos seus concorrentes. Desde que a Netflix comprou o filme no Festival de Cannes, o filme ganhou status de favorito do streaming para ser sua grande aposta de vencer o primeiro Oscar de Melhor Filme da plataforma. Com isso, a empresa comandada por Ted Sarandos despejou rios de dinheiro em materiais de propaganda, eventos especiais e outras ações que acabaram deixando Emília Pérez com o carimbo de favorito não só para o prêmio entre os filmes não americanos, mas na maior categoria da noite. Há, no entanto, toda uma campanha contra o filme francês, falado em espanhol e passado no México. Muitos apontam que Emília Pérez é desrespeitoso, xenofóbico e falha ao retratar um drama com problemas sociais reais, sem entender como de fato funcionam. A grande perspectiva de como isso vai afetar a corrida do filme para Oscar deverá ser vista nos prêmios dos sindicatos, que acontecerão nas próximas semanas.
Além de Emília Pérez, Ainda Estou Aqui tem como concorrente direto A Semente do Fruto Sagrado, filme que traz consigo não apenas uma elogiada e premiada produção, mas toda a bagagem de fora do filme. O diretor Mohammad Rasoulof teve que fugir do Irã para não ser preso, as filmagens foram feitas escondidas e membros do elenco também foram perseguidos pelo regime do país. Entretanto, a força que o filme ganhou no Festival de Cannes parece ter sido diluída com o passar dos meses e ele chega ao Oscar pouco badalado.
E é aí que entra o maior trunfo na manga de Ainda Estou Aqui. O filme estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello vive uma onda de reconhecimento tanto por parte da crítica, quanto da mídia especializada e, claro, da internet. A começar pela premiação de Fernanda no Globo de Ouro, que chocou os americanos e chamou ainda mais atenção para a produção. O filme já havia vencido o prêmio de melhor roteiro em Veneza, outros prêmios de público e crítica em festivais, mas subir ao palco no primeiro evento televisionado da temporada foi marcante não só para a indicação da atriz, mas também para o fortalecimento da trajetória do filme. Além disso, claro, está todo o movimento feito nas redes sociais, com brasileiros lotando as páginas e perfis das premiações, de sites de cinema americanos e vários outros, sempre chamando a atenção para o filme. É perceptível o interesse nessa audiência do público brasileiro em várias postagens que circulam desde a vitória de Fernanda.
Qual a grande chance na categoria de Melhor Filme Internacional? A divisão de votos e o enfraquecimento da campanha de Emília Pérez. Caso o filme da Netflix seja o real franco favorito ao prêmio principal, é muito provável que haja uma divisão de votos na categoria internacional, com muitos votantes optando por outra opção além daquele que já vai vencer a categoria máxima. O único filme que conseguiu o feito nas duas foi Parasita, em 2019. Ainda Estou Aqui, com toda a campanha de reconhecimento do filme que está em andamento e deve ganhar força com sua estreia em cerca de 500 salas de cinema nos EUA e Canadá, pode então se beneficiar desse fator. Além disso, todos os questionamentos sobre a produção francesa, declarações do diretor Jacques Audiard sobre ter feito um filme passado no México com “o que sabia”, podem de fato pesar na hora dos votos da categoria.
Melhor Filme
Se tudo já estava maravilhoso na manhã desta quinta-feira (23), com as inficações de Ainda Estou Aqui para Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz, a cereja do bolo ficou para a última categoria, a mais importante de todas: a de Melhor Filme. A indicação foi aquele gol de semifinal. No último minuto. Aquele que incendiou a torcida e vai levar o filme para a cerimônia em Los Angeles com uma torcida gigantesca.
Se isso vai ser suficiente, aí é outra história. Na categoria, Ainda Estou Aqui luta com todos os filmes mais badalados do ano. Contra todo o lobby da Netflix por Emília Pérez, toda a segurança no voto em Conclave, a bilheteria e a grife de Duna - Parte 2, contra o queridinho de Hollywood, Timotheé Chalamet, interpretando (e cantando) uma das lendas da música americana… São muitos poréns para a produção brasileira. O fato de não ser indicado nas categorias de direção e roteiro pode pesar na derrota. Mas há esperança.
Qual a chance de Ainda Estou Aqui vencer Melhor Filme? Somando o tudo que foi falado anteriormente e caso leve algum dos outros prêmios, Ainda Estou Aqui pode sim ganhar força, principalmente pelo sistema de votação do Oscar. Para resumir, os dez filmes são colocados em ordem de preferência pelos votantes e a partir de um cálculo, é feita uma média que alcança o vencedor. Esse sistema pode favorecer filmes que nem sempre são a primeira opção, mas ficam em segundo, terceiro ou que variam pouco de colocação na maioria das listas. Ainda Estou Aqui tem um ótimo número de críticas positivas, elogios de diversos nomes grandes da indústria e isso torna possível acreditar que ele ficaria nessas primeiras colocações de muitos votantes.
É uma luta difícil, a mais dura entre as três, mas ainda assim não há motivos para desistir dela. O favorito Emília Pérez tem seus predicados, que cada vez mais têm aparecido e a divisão de votos com Melhor Filme Internacional. O Brutalista vem sofrendo críticas pelo uso de Inteligência Artificial. Anora também tem sua polêmica com a falta de um coordenador de intimidade. Nickel Boys ninguém nem sabe sobre o que é, já que a Amazon utiliza uma estratégia - podemos dizer - bizarra de marketing e por aí vai.
Ainda Estou Aqui chega consolidado com um dos grandes fenômenos do ano e uma potência não só pelo lado da arte, mas também a agitação popular que a primeira indicação do Brasil ao Oscar na Era das redes sociais vem causando. Temos chances em todas as categorias e ainda falta mais de um mês de campanha. Hoje dá para dizer que vale a pena acreditar nas chances.
Fonte: Omelete // Alexandre Almeida