Beijo da Mulher Aranha teve filhos de vítimas da ditadura na equipe, diz diretor
Publicado em 27/01/25 06:00
Segundo o diretor Bill Condon, uma parte da equipe de bastidores do seu O Beijo da Mulher Aranha foi formada por artistas argentinos que são familiares de indivíduos que foram “desaparecidos” ou aprisionados durante a ditadura militar que serve de pano de fundo para a história - aquela instaurada na Argentina entre 1976 e 1981, sob o comando de Jorge Rafael Videla.
“Foi um momento muito impressionante para mim. Filmamos no Uruguai, com uma equipe e um elenco que misturava pessoas uruguaias e argentinas, o que deixou muito claro para mim o quanto o livro [O Beijo da Mulher Aranha, de Manuel Puig] tinha deixado uma marca profunda naquelas pessoas”, comentou Condon durante o tapete vermelho do filme, no Festival de Sundance 2025, acompanhado pelo Omelete.
[Entrevista] Steven Yeun e Dave Franco descrevem novo filme: “Mais real que a realidade”O novo O Beijo da Mulher Aranha restaura a ambientação original da história, já feita em 1985 para os cinemas por Hector Babenco - na ocasião, o cineasta argentino naturalizado brasileiro transportou a trama para São Paulo, na época da nossa própria ditadura militar. Mas a ideia, mesmo, é representar uma experiência latina comum.
“Eu me cerquei de colaboradores latinos, começando pelos meus atores”, diz Condon, que escalou intérpretes mexicanos (Diego Luna, Aline Mayagoitia), argentinos (Josefina Scaglione) e de ascendência porto-riquenha (Jennifer Lopez) no longa. “Fazer este filme, para mim, foi um processo de dialogar com a maior quantidade de pessoas possível, e de fazer de todo mundo meu colaborador”.
Um desses colaboradores foi Tonatiuh, escolhido para viver Luís Molina (papel de William Hurt no longa original) nesse remake. Ao Omelete, o ator visto recentemente no hit de ação Bagagem de Risco comentou sobre a latinidade da equipe: “Este filme todo foi feito a partir de um ponto de vista que nos honra e nos centra, como latinos e como pessoas queer. Para mim, a nossa própria presença no set já garantia que essa essência fosse transmitida para o filme. A latinidade vive no nosso corpo, não é mesmo?”.
[Entrevista] Cumberbatch discute luto em novo filme: “Todo mundo vai passar por isso”O que não faltou, também, foi pesquisa. Uma vez posicionado firmemente como musical - o novo O Beijo da Mulher Aranha adapta o espetáculo da Broadway de 1995 -, o filme contratou o produtor Matt Sullivan para, nas palavras do próprio, “manter o sentimento latino vivo na música” que os atores apresentariam na tela.
“Além de termos filmado no Uruguai, eu viajei muito pelo Brasil e pela Argentina, absorvendo a cultura e a música. Foi isso que tentei colocar no filme”, comenta ele. “No caso do Brasil, é tudo sobre a excitação e o ritmo. Muitos trompetes, muita percussão. Quando estávamos produzindo a música do filme, eu insistia o tempo todo para que aquele motor da percussão nunca parasse, sabe? Fiquei na América do Sul cinco semanas a mais, depois dos fim das filmagens. Não queria voltar para casa!”.
Quem assina embaixo dessa tese da conexão entre países latinos é Josefina Scaglione, que assume o papel de Marta (namorada do protagonista Valentin, vivido por Diego Luna) no filme: “América do Sul unida! Acho que essa história representa todos nós. O primeiro filme de Hector Babenco foi muito importante por ter trazido a história de Manuel Puig a mais gente, a mais países que não a conheciam tão bem. Agora podemos vê-la novamente, com um pano de fundo talvez mais fiel ao livro - de qualquer forma, estou muito contente de representar a Argentina aqui, mas também muito além disso, de representar a América do Sul. Estamos presentes!”.
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O Festival de Sundance 2025 acontece entre os dias 23 de janeiro e 2 de fevereiro, em Park City (EUA), trazendo a estreia mundial de filmes estrelados por Jennifer Lopez, Benedict Cumberbatch, Olivia Colman e muitos outros astros. Fique de olho no Omelete para a cobertura completa.
O Beijo da Mulher Aranha ainda não tem distribuição confirmada no Brasil, nem data de estreia.
Fonte: Omelete // Caio Coletti