José Mojica Marins

José Mojica Marins OMC (São Paulo, 13 de março de 1936 – São Paulo, 19 de fevereiro de 2020) foi um cineasta, ator, apresentador e roteirista de cinema e televisão brasileiro. É considerado o "pai" do terror nacional, tendo sua obra grande importância para o gênero e influenciando várias gerações. Seu icônico personagem Zé do Caixão, interpretado pelo próprio Mojica, está presente em diversos de seus filmes e é responsável por tê-lo tornado mundialmente conhecido.

Embora seja associado principalmente ao seu trabalho no horror, rodou diversas produções cujos gêneros variam entre faroestes, dramas, aventura, pornochanchada, entre outros. Mojica desenvolveu um estilo próprio de filmar que, inicialmente desprezado por parte da crítica nacional, passou a ser reverenciado após seus filmes começarem a ser considerados cult no circuito internacional. Mojica é considerado como um dos inspiradores do movimento marginal no Brasil, e era reverenciado, enquanto cineasta, por pares como Luis Sergio Person, Glauber Rocha e Rogério Sganzerla.

Em todos seus filmes, com exceção de Encarnação do Demônio, José Mojica Marins teve sua voz dublada. Na década de 1960, diversos filmes brasileiros necessitavam ser dublados, pela pouca nitidez de som nas externas e pela opção de realçar uma melhor interpretação. Algumas vezes, o próprio ator dublava seu personagem, mas por vezes era escolhido um profissional qualificado para um melhor desempenho. Na Odil Fono Brasil, mostraram vários filmes a Mojica, para que escolhesse um dublador para Zé do Caixão. O cineasta ficou particularmente impressionado com a voz usada para dublar o ator italiano Mario Carotenuto: a voz de Laercio Laurelli. Laurelli fez a voz de Zé do Caixão em À Meia-Noite Levarei Sua Alma, Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver e O Estranho Mundo de Zé do Caixão; enquanto O Ritual dos Sádicos, Finis Hominis e Quando os Deuses Adormecem foram dublados por Araken Saldanha, na AIC. Exorcismo Negro e Delírios de um Anormal tiveram a voz de João Paulo Ramalho, também na AIC.

Mojica teve uma longa carreira como cineasta e apresentador de televisão, onde quase sempre aparecia caracterizado como Zé do Caixão. O figurino, composto por cartola, capa preta e por suas icônicas unhas alongadas, também o acompanhava em boa parte de suas aparições públicas em eventos, festivais e outras atividades culturais, no Brasil e no exterior. Após certo período de ostracismo a partir da segunda metade da década de 1980, quando passou a dirigir filmes com cada vez menos frequência, teve seu cinema redescoberto por jovens cineastas brasileiros interessados no horror, como Paulo Sacramento e Dennison Ramalho (que trabalharam em Encarnação do Demônio). Ao lado de Rodrigo Aragão e Petter Baiestorf, outros dois diretores que também o citam enquanto influência, Mojica dirigiu um segmento do filme episódico As Fábulas Negras, lançado em 2015. No mesmo ano, assinou a direção de um capítulo do filme antologia Memórias da Boca. Foram seus último trabalhos como diretor.

Após passar seus últimos anos de vida lidando com diversos problemas de saúde, Mojica faleceu no dia 19 de fevereiro de 2020, após uma internação de quase um mês para tratar de uma broncopneumonia. Seu velório aconteceu em cerimônia aberta no Museu da Imagem e Som de São Paulo.

Um ano após o falecimento de Mojica, foi lançado seu último filme inédito, A Praga, projeto rodado em Super 8 cujos originais incompletos haviam sido perdidos na década de 1980. Reencontrado já no século XXI, numa lata de lixo, o filme foi completado e lançado em 2021 pelo montador e cineasta Eugenio Puppo, com direito a filmagens adicionais do próprio Mojica gravadas em 2007, em uma tentativa anterior de finalização do projeto. A Praga circulou por festivais de cinema em todo o mundo e estreou em circuito comercial, em uma última homenagem a Mojica.